O jornal
era de Detroit, Michigan e a notícia era assim:
”Michigan
perde soldados”.
Já
há muito tempo não ouvira falar em Detroit. O
rio, o velho hotel com o meu nome de família. Mas a notícia seguia cortante:
”Em
22 de Fevereiro, A. de 31 anos, natural de S. County, Michigan foi morto juntamente com três outros seus camaradas durante
a patrulha em A.-H., Iraque(…)”.
As memórias
de Detroit deram lugar à angústia de me ver obrigada a viver num mundo que me mancha as memórias de infância com manchas de
sangue juvenil.
“(…)
Para mais informações sobre outros soldados do Michigan que perderam a sua vida no Iraque (…)”.
Não quis
continuar a ouvir. Após esta notícia seguir-se-iam as dos jornais iraquianos onde a morte escreve através das linhas.
Conservo
a imagem de A. que percorre todo o meu circuito eléctrico.
Vivia-se
o ano de 1975 e o pai orgulhoso protegia-o nos seus braços enquanto, com um grande sorriso, o mostrava aos colegas que
o haviam substituído na linha de montagem. Não pude deixar de ficar feliz por ele, que há dois dias atrás me fizera um check
up completo, colocara o meu livro de instruções no porta-luvas e me autorizara a sair para a vida deixando atrás de mim as
instalações de montagem da Cadillac Automobile Company.
Desejei
ao então pequeno e tenro A. uma vida longa e feliz nas margens do rio Detroit.